Um estado de poesia.

 Terra de Augusto dos Anjos, a Paraíba possui uma tradição muito ampla na poesia. Lugar de cantadores como Inácio da Catingueira e Zé Limeira. Drummond chamava o cordelista Leandro Gomes de Barros de “príncipe dos poetas”. Terra de Silvino Olavo, Vanildo Brito, Zila Mamede, Sérgio de Castro Pinto. Se produz arte  de qualidade em todas as linguagens por aqui. A Paraíba é um dos respiradouros artísticos do Brasil e tem na poesia o seu sotaque primordial.

Atendendo convite da Editora Casa Verde, de Porto Alegre, reuni uma das minhas seleções. Convenhamos são muitas. Realizei um grande recorte da poesia contemporânea da Paraíba. Poetas nascidos e nascidas, residentes ou que deixaram a alma por aqui. Poetas jovens, poetas mais experientes. Do cordel ao neobarroco. Eram tantos e tantas que já começo a pensar num segundo volume. Ainda que as escolhas jamais sejam fáceis, pois inevitavelmente sempre haverá o risco de alguma injustiça. Afinal, escolher um caminho significa deixar de trilhar outros.

Neste “Horizonte mirado na lupa”, busquei alargar o alcance do olhar sobre a poesia feita na Paraíba atualmente. Sem impor fronteiras de qualquer espécie. Não se trata de escolher os melhores e as melhores, mas de perceber o quanto somos imensos, diversos e inclassificáveis. Procurei ampliar os horizontes por onde caminha a poesia dos nossos dias. Trata-se também de cumprir  as provocações inteligentes da editora Casa Verde que não mede esforços para democratizar as suas publicações.

O cenário poético da Paraíba é um dos mais consistentes do país. As mulheres estão publicando mais. Há também o surgimento de uma literatura indígena e a consolidação da poesia negra paraibana. Por isso, aqui a experiência e a consagração alternam-se com os primeiros passos. Misturei poetas com muitos livros publicados a quem sequer reconhecia como poesia a sua produção. Gente publicada em grandes editoras, premiadas e premiados, com gente cujas publicações se limitavam basicamente às redes sociais.

Claro que nomes importantes ficaram de fora deste volume. Todavia é impossível e desnecessário o fechamento desta porta. Esta antologia é uma provocação para que outras tantas sejam organizadas. Afinal, a ideia é exatamente ampliar o leque fora do eixo. Direcionar a lupa para os rincões, para as aldeias, para os quilombos que nos ajudam a resistir as ameaças do fascismo. Neste sentido, me alegra a cartografia das escolhas que fiz.

Rastreei a produção paraibana e sei que muito me escapou entre os dedos. Fiz minhas escolhas com rigor, mas sem rigidez. No mais, desejo que jamais as escolhas no campo literário esbarrem em questões de etnia, credo, orientação sexual ou qualquer elemento de sustentação desta sociedade patriarcal, machista, racista e homofóbica que precisa ser superada. Para isso a poesia é um barco em alto mar e, com ela, vamos transbordando no oceano do mundo.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

As escolhas afetivas de Débora Vieira.

Para não esquecer Violeta Formiga

As veias abertas de Clareanna Santana